Maria João Bom falou acerca do trabalho do designer Robin Fior, com quem privou e trabalhou, analisando algumas das suas obras de uma perspetiva política ao longo de várias décadas e momentos marcantes para a história mundial.
A exposição da Gulbenkian, reúne peças de Robin Fior, concebidas em Inglaterra, na década de 1960, e em Portugal, entre 1970 e 1980.
Robin Fior (1935-2012) chegou a Lisboa em 1973 com o objetivo de ministrar uma formação de seis meses aos sócios da cooperativa PRAXIS. Já com duas décadas de experiência como designer e sendo um militante ativo da esquerda marxista independente em Londres, Fior envolveu-se na Revolução de 1974 e nos seus movimentos, acabando por permanecer quatro décadas em Portugal.
A exposição parte do espólio recentemente doado à Fundação Calouste Gulbenkian e reúne o trabalho gráfico realizado por Robin Fior em Londres e Lisboa. Há uma seleção de materiais desenhados entre as décadas de 1960 e 1980 para projetos politicamente alinhados à esquerda e socialmente comprometidos, como a campanha de desarmamento nuclear, a propaganda anticolonial e as iniciativas de grupos informais e libertários para a cultura, a saúde e o trabalho. Os objetos são complementados por comentários de «companheiros de estrada» que revelam as suas histórias e o contexto da sua produção.
Robin Fior gostava de experimentar com técnicas tradicionais de impressão e produção e isso é visível nos seus mais diversos trabalhos.
O livro
“A Práxis no Design Gráfico de Robin Fior e contextos, 1935-2012”, de Maria João Bom, docente do Instituto Politécnico de Tomar, foi lançado em 2015.
Após ter trabalhado dois anos no ateliê de Robin Fior, Maria João Bom apaixonou-se "pela forma como o designer pensava e executava o seu design gráfico, pelo facto de ser sistematicamente determinado em virtude dos seus requisitos semânticos”.
Dedicou-se a analisar as ideias e a práxis de Robin Fior para compreender e sistematizar os aspetos que as caracterizavam. O livro apresenta ainda a obra e a forma de pensar de Robin Fior, que trabalhou em Portugal largos anos e até à sua morte, em 29 de setembro de 2012.
Ao longo de mais de 500 páginas a autora, que também é responsável pelo design gráfico do livro, apresenta a história da produção artística e os percursos mentais do designer, vividos nos dois países onde residiu – Inglaterra e Portugal.
Maria João Bom entende que “Robin Fior, para além de ter sido um pioneiro e um desbravador de novos caminhos, contribuiu para tornar mais rico o design gráfico português e além-fronteiras”.
A obra está ainda dividida em 17 capítulos distintos, a única forma que a autora encontrou para atribuir coerência ao facto de Robin Fior ter trabalhado para campos tão distintos como a cultura, o comércio, a indústria, e, em particular, no início da sua carreira, no campo político, o que lhe valeu a breve trecho o epíteto de ser o melhor designer político em Inglaterra.