No coração da Praia da Vitória, entre os dias 24 de outubro e 9 de novembro, o Outono Vivo volta a afirmar-se como um dos maiores encontros literários e culturais dos Açores.
Este ano, a feira do livro ganha uma nova dimensão digital: a editora Letras Lavadas lançou uma aplicação acessível, através do WhatsApp, que permite a qualquer pessoa — esteja ou não na ilha Terceira — comprar livros a preços de feira, com portes gratuitos para todo o país.
A novidade foi apresentada durante o evento e, como explica Ernesto Resendes, fundador da Nova Gráfica dos Açores e da Letras Lavadas, o objetivo é “levar o Outono Vivo a todas as ilhas e ao continente”.
“Criámos um número específico de WhatsApp e um QR code. As pessoas perguntam pelo livro que querem, nós confirmamos a disponibilidade e enviamos pelos CTT, com o preço de feira e sem custos de portes”, explica.
Ernesto Resendes (Letras Lavadas), Vânia Ferreira (Presidente da CM da Praia da Vitória) e Paula Borges de Sousa (Vereadora da Cultura)
Com esta solução, a feira ultrapassa as barreiras geográficas e leva o espírito do Outono Vivo “de Santa Maria ao Corvo, e até ao continente”. Uma inovação simples, mas simbólica, que reforça a missão de democratizar o acesso ao livro e à cultura.
80 mil livros, 17 dias e um país inteiro a ler
Nesta edição, o espaço da feira reúne cerca de 80 mil livros, num esforço logístico notável. “Montámos tudo numa semana, com quatro pessoas, e agora há sempre uma equipa a repor, arrumar, reorganizar. A feira é preparada todos os dias”, descreve Ernesto Resendes.
O evento decorre diariamente. Abre ao meio-dia durante a semana e recebe, nas manhãs, escolas, alunos e grupos seniores. A afluência surpreende até quem está habituado a grandes eventos literários. “Já estive na Feira do Livro de Lisboa e na de Porto Alegre, no Brasil, e nenhuma é igual. Aqui as pessoas vêm para comprar, não só para ver. Sabem o que querem, escolhem com antecedência e esperam pela feira para comprar os livros, muitos deles para oferecer no Natal.”
O fundador da Letras Lavadas não esconde a admiração pelo público visitante e sublinha a diferença cultural que sente entre ilhas. “As pessoas têm uma cultura muito superior à média. É impressionante a forma como valorizam o livro e a leitura.”

Uma parceria inesperada
A presença da Letras Lavadas e da Nova Gráfica dos Açores no Outono Vivo resulta de uma parceria com a Câmara Municipal da Praia da Vitória, que há 20 anos organiza o festival.
“Esta feira é da Praia da Vitória, mas podemos dizer que é a feira do livro dos Açores. Não há outra com esta dimensão”, afirma Resendes. “E é um trabalho de continuidade, pois chega à 20.ª edição com uma força incrível.”
Para o editor e empresário, o envolvimento da Letras Lavadas vem acrescentar inovação, experiência e projeção exterior: “Trazemos o nosso conhecimento, a experiência de outras feiras, a ligação com editores nacionais e internacionais. Queremos ajudar a feira a crescer, mas também reforçar a marca dos Açores como referência no livro e na edição.”
Letras Lavadas e Nova Gráfica: o mesmo ADN, duas missões
A história da Letras Lavadas está profundamente ligada à Nova Gráfica dos Açores, empresa fundada por Ernesto Resendes e pioneira na modernização da indústria gráfica açoriana.
“Comprámos com uma agência de publicidade que fazia listas telefónicas e produtos turísticos. Com o tempo, percebemos que tínhamos de evoluir. Sabíamos fazer livros e transformámos a agência numa editora”, recorda.
Hoje, a Letras Lavadas é uma das editoras mais conceituadas do arquipélago, com catálogo diversificado e distribuição nacional, enquanto a Nova Gráfica continua a assegurar a qualidade de produção que serve de base a ambos os projetos.

“A editora acabou por se tornar o nosso cartão de visita. É a marca visível, aquela que chega ao público final, enquanto a gráfica trabalha nos bastidores, para os clientes empresariais. Mas uma alimenta a outra. A Letras Lavadas dá projeção e novos trabalhos à gráfica, e a gráfica garante a excelência que a editora promete”, diz.
Essa sinergia tem sido essencial para garantir sustentabilidade num setor exigente e em constante transformação. “As empresas não podem chegar a um certo ponto e parar. Têm de dar sempre mais um passo, todos os dias um bocadinho à frente.”
O Outono Vivo é hoje muito mais do que uma feira do livro. É um festival que celebra a leitura, a música, o teatro, as ideias e a identidade. Para Ernesto Resendes, o futuro passa por continuar a inovar e ampliar o alcance deste evento e da própria editora: “O mais importante é levar os livros a quem não pode estar cá. Mostrar que, a partir dos Açores, podemos fazer tanto como no continente. E fazê-lo com alma, com identidade e com paixão.”