Com apresentação de Mariana Alvim, a segunda edição do Book 2.0 arrancou ontem, no Museu do Oriente em Lisboa.
A agenda é diversa e contou com a intervenção de autores nacionais e internacionais, figuras do governo, incluindo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e responsáveis de diversas entidades da indústria editorial. A reter está muita informação, incluindo a de que o mercado de livros, em Portugal, gerou um volume de negócios de 187 milhões de euros.
Pedro Sobral, na qualidade de Presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), relembrou a responsabilidade de cada um na construção de Portugal: «um país onde a leitura é a chave para mais liberdade e a literacia é a base para uma democracia mais universal. Neste dia e meio, vamos falar sobre como nós, autores, editores, livreiros, leitores e restantes agentes do livro, como guardiões dessa chave, temos permissão de dar acesso ao livro e à leitura.»
O presidente da APEL partilhou então os primeiros números: «Em 2019, o mercado de livros em Portugal gerou 154 milhões de euros, um número estável desde 2011, mas que em 2023 se encontra já nos 187 milhões de euros. Este é um sinal de que os portugueses estão a redescobrir a importância dos livros.» Ainda assim, sublinha, há muito a fazer em prol da acessibilidade: «o mercado de livro na Europa gerou no mesmo período entre 37 e 38 biliões de euros em vendas. É uma dimensão que nos dá o que ainda temos de crescer para estar a par do resto da Europa. »
A associação apela a que haja um maior apoio, em especial para as pequenas livrarias nas autarquias mais remotas. Tal seria possível, diz Pedro Sobral, com a «a disponibilização, pelas autarquias do Estado Central, de locais bem localizados e em sítios mais relevantes, com rendas acessíveis ou períodos de carência na inflação fiscal no início do negócio, que é em si difícil. É possível apoiar sem subsidiar, mas apoiar para acelerar e promover mais pontos de livraria diversos pelo país».
Hábitos de leitura
De acordo com um estudo da Nielsen GfK relativamente a 2023, 73% dos portugueses têm hábitos de leitura. Isso, diz Pedro Sobral «mostra-nos que a leitura já é uma parte importante da vida dos portugueses. Num mundo cada vez mais digital e acelerado, onde o tempo parece escapar por entre os dedos, saber que a maioria dos portugueses ainda encontra tempo para a leitura, é um sinal de que o poder dos livros permanece forte e que tem espaço para crescer.» É necessário, por isso, apostar em criar hábitos, para recuperar os 34% de leitores que referiram ter lido menos no ano passado: «É um dado que nos fala de uma habilidade que muitos enfrentam. A luta contra o tempo, a tensão da vida moderna e a constante concorrência pela diminuta atenção disponível. É fácil entender porque é que alguém pode acabar a ler menos do que gostaria. No entanto, isto também representa uma oportunidade. A oportunidade de reconquistar esses leitores, de relembrar o valor e o prazer da leitura e de ajudar a encontrar formas de integrar mais livros nas suas vidas diárias.»
O papel prevalece
Os dados mostram que 93% dos portugueses ainda preferem o formato em papel: «Mais uma prova da conexão profunda e duradoura com o objeto do livro. O papel tem algo que o digital simplesmente não consegue replicar. O toque, o cheiro, o peso do livro nas mãos... Cada página virada traz consigo uma sensação de descoberta, uma sensação que é tão física quanto intelectual», diz o Presidente da APEL.
«Estes 93% lembram-nos que mesmo em tempos de mudança há algo sobre o papel que permanece insubstituível.» Embora apenas 17% dos portugueses leiam livros em formato digital, os dados mostram que muitos acedem a conteúdo distribuído de forma ilegal, alerta Pedro Sobral, afirmando que existe uma «indiferença moral e ética perante o consumo ilegal de conteúdos, e que grassa em vários setores, desde os livros ou da música, imprensa e audiovisual. A deficiente e antiquada regulação, a inexistência de penalizações relevantes e sérias, leva a uma grande inconsciência e falta de conhecimento sobre o impacto da indústria criativa.»
O Presidente da APEL congratulou os que pagam pelos conteúdos digitais: «É um grupo que valoriza a qualidade e está disposto a investir em livros digitais, assinaturas ou outros formatos. Por isso, e embora o papel ainda seja o formato preferido, o digital está a encontrar os seu espaço, especialmente para aqueles que valorizam a acessibilidade e a conveniência.»
A reportagem completa do evento Book 2.0, com outros dados relevantes, será publicada na revista doPAPEL #380.