O Biocant Park, em Cantanhede, foi o local escolhido para apresentar os resultados de um programa de investigação e desenvolvimento (I&D) que envolveu mais de 200 investigadores a trabalhar num período de quatro anos e nove meses, e que resultou em 37 patentes. O objetivo do Inpactus passou por promover a bioeconomia de base florestal, perseguindo a circularidade e a descarbonização.
O programa foi desenvolvido pela The Navigator Company e pelas Navigator Brands, em conjunto com o RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel, a Universidade de Coimbra e a Universidade de Aveiro. Outros parceiros são a Universidade da Beira Interior, Universidade do Minho, Instituto Superior Técnico, Universidade Nova de Lisboa, Instituto Ibérico de Nanotecnologia, Centros de I&D RISE Bioeconomy (da Suécia) e Fraunhofer (da Alemanha) e a spin-off Satisfibre.
Do projeto resultaram 66 protótipos e 114 provas de conceito, além de produtos que já estão em comercialização, como é o caso de produtos de embalagem kraftliner produzido a partir de pasta de alto rendimento, com a marca gKraft, e três produtos de papel higiénico-sanitário, da marca Amoos, com perfumes, suavizantes ou anti-bacterianos.
Durante a apresentação dos resultados do projeto, o CEO da The Navigator Company, disse que a bioeconomia de base florestal transforma as atuais fábricas de pasta em biorrefinarias. Contudo, António Redondo, lamentou as restrições à plantação de mais floresta de produção que, bem-gerida, iria evitar os elevados volumes de importação de madeira que são atualmente necessários, impedindo o país de conseguir uma maior riqueza a nível interno.
“O desenvolvimento de novos produtos de base biológica é um compromisso a longo prazo, que exige muito investimento e que demora a dar resultados. São necessárias parcerias público-privadas, a nível nacional e internacional”, comentou o CEO da The Navigator Company, na intervenção que realizou durante a apresentação dos resultados do inpactus.
Do papel aos bioplásticos e bioativos
Quando pensamos em indústria ligada à floresta, é comum pensarmos de imediato na indústria papeleira. Contudo, o inpactus vem provar que essa será uma ideia ultrapassada. Com o projeto foram gerados bioprodutos, como biocompósitos à base de celulose e bioplásticos, com potencial utilização em indústrias tão diversas como a injeção e moldagem de plásticos, filamentos para impressão 3D e indústria têxtil.
Mas há mais. Os produtos bioativos e essências a partir da biomassa florestal têm também potencial de aplicação na área farmacêutica, na cosmética e nos produtos de higiene, em ingredientes de alimentação animal ou na nutracêutica. Nesta última aplicação já com comprovados benefícios a vários níveis, nomeadamente ação anti-inflamatória, antienvelhecimento da pele e atividade prebiótica.
Existem igualmente outros projetos promissores em fase de demonstração industrial, como novas argamassas e cimentos ecológicos com integração de cinzas das caldeiras de biomassa, assim como aplicações da lenhina, um subproduto do processo industrial, para aplicação em espumas de poliuretano, adesivos e compósitos. Além disso, há ainda o desenvolvimento de biocombustíveis a partir dos sobrantes da biomassa florestal, através de diferentes tecnologias.