Portugal continua longe de atingir as metas de reciclagem de embalagens definidas para 2025, mas o papel e cartão surgem como os únicos materiais com crescimento expressivo nos primeiros nove meses do ano.

Segundo dados da Sociedade Ponto Verde (SPV), o sistema de recolha seletiva encaminhou 122.537 toneladas de papel e cartão para reciclagem, um aumento de 4% face a 2024.

O desempenho positivo contrasta com a estagnação de outros materiais, como o vidro (0%), e a quebra das embalagens de cartão para alimentos líquidos (ECAL, -7%). O plástico e o alumínio registaram ligeiros crescimentos de 3% cada, insuficientes para compensar o atraso global.

Apesar do reforço do investimento — 147,6 milhões de euros aplicados entre janeiro e setembro, mais 63,8 milhões do que no mesmo período do ano anterior — o país continua abaixo do ritmo necessário para cumprir a meta de 65% de reciclagem até ao final de 2025.

À entrada do último trimestre de 2025, é evidente que Portugal não vai conseguir cumprir as metas de reciclagem de embalagens. Estamos a investir mais do que nunca, mas sem uma verdadeira modernização do sistema, os resultados continuam a não acompanhar o investimento feito pelas entidades gestoras”, afirma Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde.

Ana Trigo Morais

A SPV defende que o desempenho do papel e cartão demonstra a eficácia de cadeias de recolha mais consolidadas e com melhor infraestrutura, mas alerta que a modernização dos sistemas municipais e multimunicipais é fundamental para replicar estes resultados noutras frações.

“Mais do que nunca, é preciso garantir que o investimento se traduz em mais reciclagem efetiva e em dados transparentes. É incompreensível que, com mais recursos do que nunca, a reciclagem de embalagens esteja estagnada. O valor que hoje é pago ao sistema de recolha seletiva é suficiente para impulsionar inovação, criar soluções e permite ir mais longe. É imperativo exigir melhor desempenho e a SPV está totalmente empenhada em que isso aconteça. Queremos que cada euro aplicado se traduza em mais embalagens recicladas e num contributo real para o cumprimento das metas que o País tem para cumprir”, conclui.

A entidade destaca que o sucesso do papel e cartão deve servir de referência para a melhoria dos restantes fluxos, apostando em maior eficiência operacional, comunicação com os cidadãos e transparência nos resultados. Sem estas mudanças, alerta a SPV, o crescimento pontual do setor não será suficiente para alterar o panorama global da reciclagem em Portugal.