A taxa de reciclagem de papel e cartão na Europa atingiu os 75,1% em 2024, segundo o relatório anual do European Paper Recycling Council (EPRC).
O valor representa uma descida face a 2023, quando a taxa tinha alcançado os 79,3%, mas os responsáveis sublinham que esta diminuição não traduz um enfraquecimento do setor. A explicação está nas variações de consumo e na gestão de stocks que marcaram os últimos dois anos: 2023 registou níveis anormalmente baixos de consumo, o que inflacionou a taxa, e 2024 refletiu um regresso ao padrão habitual, com um aumento de 5,2% no consumo de papel e cartão. Já o volume efetivamente reciclado recuou apenas 0,4%, para 53,4 milhões de toneladas.
O compromisso europeu, definido na Declaração Europeia para a Reciclagem de Papel 2021-2030, estabelece a meta de atingir 76% de reciclagem até ao final da década. Apesar da ligeira quebra de 2024, a média dos últimos três anos fixou-se em 75,2%, o que confirma que a Europa continua bem posicionada para cumprir o objetivo. A consistência do setor é visível também na comparação global: a Europa mantém-se como campeã mundial da reciclagem de papel, à frente da América do Norte, com cada fibra a completar, em média, quatro ciclos de utilização, enquanto a média mundial se fica pelos 2,6 ciclos.
O relatório destaca igualmente os avanços qualitativos que estão a sustentar esta trajetória. A recolha seletiva e a harmonização das instruções de separação, apoiadas pelo novo Regulamento Europeu de Embalagens e Resíduos de Embalagens, estão a tornar mais clara a participação dos consumidores e a aumentar a qualidade dos materiais encaminhados para reciclagem.
Paralelamente, o ecodesign assume um papel central, com a introdução de metodologias de teste e diretrizes que asseguram maior compatibilidade dos produtos com os processos industriais. Iniciativas desenvolvidas por diferentes associações e empresas estão a criar embalagens mais fáceis de reciclar, com novas formulações de tintas, adesivos e materiais compósitos que respondem às exigências de circularidade e às metas europeias.
A inovação é outro pilar em evidência. Projetos de investigação, como o SPaRe, estão a explorar soluções para valorizar rejeitados do processo de reciclagem, aproveitando fibras e plásticos que anteriormente seriam desperdiçados. Em França, novas tecnologias permitem já recuperar praticamente a totalidade das fibras presentes em embalagens de líquidos usadas, reduzindo significativamente o volume de resíduos que precisa de ser eliminado. Estas evoluções reforçam o papel da indústria europeia como líder em soluções sustentáveis.
Um destaque adicional vai para a 4evergreen, que congrega mais de 110 organizações da cadeia de valor das embalagens de fibra. Esta plataforma colaborativa ambiciona alcançar 90% de reciclagem até 2030 e tem vindo a desenvolver ferramentas de avaliação da reciclabilidade, guias de design circular e recomendações para a recolha e triagem em diferentes contextos. Em paralelo, promove uma forte componente de comunicação e partilha de conhecimento, através de programas de embaixadores, conferências e a divulgação de casos de sucesso de circularidade.
A educação e a sensibilização de consumidores, empresas e decisores políticos completam o esforço conjunto. Campanhas como Greensource e Circular Choices têm contribuído para recolocar a bioeconomia florestal e a circularidade no centro da agenda política europeia, reforçando a confiança pública e estimulando mudanças de comportamento.
Apesar das flutuações anuais, o setor europeu da reciclagem de papel e cartão continua a apresentar um desempenho robusto, sustentado pela cooperação entre indústrias, pelo investimento em inovação tecnológica e por políticas públicas alinhadas com os objetivos da economia circular.