Com a possível imposição de tarifas dos EUA sobre produtos europeus, a indústria da pasta e papel entra na linha de risco. A Cepi pede prudência, diálogo e proteção estratégica.

A relação comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos atravessa uma fase delicada. A recente decisão da administração norte-americana de aplicar tarifas sobre o aço e o alumínio reacendeu os receios de um alargamento dessas medidas a outros bens europeus, incluindo produtos do setor da celulose, papel e cartão, historicamente sensível a oscilações nas trocas internacionais.

Perante este cenário, a Cepi — entidade que representa a indústria europeia do setor — reagiu com preocupação, apelando à Comissão Europeia para que mantenha o caminho da negociação e, ao mesmo tempo, prepare uma resposta firme e equilibrada, caso o diálogo falhe.

A Comissão já colocou em marcha um processo de consulta pública sobre uma lista de potenciais produtos dos EUA que poderão ser alvo de medidas de retaliação, com prazo até 26 de março. A versão final será depois validada pelos Estados-Membros e poderá entrar em vigor em meados de abril.

A Cepi defende uma abordagem proporcional, recomendando à Comissão que evite uma escalada desnecessária, excluindo produtos do setor se os EUA também os deixarem de fora; proteja o abastecimento europeu, retirando da lista bens cuja escassez possa prejudicar a produção interna e verifique fluxos comerciais desviados, sobretudo de países terceiros que possam aproveitar o vazio criado por uma eventual guerra de tarifas.

A dependência mútua entre as duas potências comerciais neste setor é clara: a UE importa anualmente dos EUA cerca de 900 mil toneladas de pasta e 600 mil toneladas de papel e cartão, enquanto exporta para o mercado norte-americano 1,6 milhões de toneladas de papel e cartão e 350 mil toneladas de pasta. Um desequilíbrio que faz do mercado americano estratégico para a indústria europeia, especialmente nas categorias de valor acrescentado.

Desde 2004, com o fim das tarifas bilaterais no setor, a relação comercial tem sido estável e mutuamente benéfica. Uma rutura desse entendimento teria impactos diretos não apenas nas empresas, mas também nos consumidores e cadeias de abastecimento que dependem de produtos de uso diário — desde embalagens a artigos de higiene.

“Não está apenas em causa a competitividade do nosso setor”, sublinha Jori Ringman, diretor-geral da Cepi. “Falamos de consumidores da UE e dos EUA que precisam de produtos básicos de higiene, de trabalhadores que podem perder o emprego nas fábricas e de consequências para uma série de setores que dependem de embalagens de papel.”

O alerta da Cepi é claro: qualquer perturbação tarifária neste momento pode ter efeitos sistémicos, numa indústria que já se debate com os desafios da transição energética, da inflação de custos e da adaptação às metas ambientais. Preservar a previsibilidade e o equilíbrio nas trocas comerciais é, mais do que nunca, uma questão estratégica.