O setor de papel e cartão está a ser afetado pelo menor nível de procura na Europa, pela redução de stocks e pelos elevados custos de produção.
Com um contexto macroeconómico adverso, a produção registou um declínio em 2023, devido a factores externos agravados, revela o relatório estatístico da Cepi, Confederação das Indústrias Europeias de Papel.
Com as tendências económicas globais de médio prazo a impactar a procura de papel e cartão e a exacerbar a redução de existências, o consumo caiu 15,3% em 2023 e, por sua vez, a produção sofreu, pelo segundo ano consecutivo, alguma contração, diminuindo 12,8%. Depois de um ano de 2022 marcado por preços altos da energia, a diminuição da produção em 2023 continua a ser mais pronunciada ainda do que foi durante a crise da Covid-19 (-4,7% em 2020).
Jori Ringman, Diretor Geral Cepi, diz: «De todas as questões macroeconómicas resultantes das crises dos últimos anos, a melhoria das condições básicas de funcionamento e de investimento para o sector industrial da UE, embora continue a ser um grande desafio, poderá ainda ser um dos frutos mais difíceis para os decisores políticos da UE.»
As tendências globais foram agravadas pelos custos comparativamente elevados dos factores de produção na Europa, nomeadamente da energia, cujo custo continua a ser “insustentavelmente elevado”, revela a Cepi. Isto é ilustrado pela contração da produção doméstica de papel e cartão na Europa, mais do que em muitas outras regiões do mundo, onde as diminuições variaram entre -2% e -10%. E, num contexto globalizado de baixa procura, tanto as importações como as exportações diminuíram igualmente, e a balança comercial da pasta e do papel da Europa permanece positiva, uma vez que é um dos principais sectores industriais da UE.
A produção de papel e cartão para embalagens na Europa também manteve uma tendência decrescente, com o consumo a diminuir 12,2%. O segmento sofreu com uma desaceleração nos números do retalho e do comércio eletrónico, tendo voltado aos níveis da pandemia. Isto, por sua vez, impactou o consumo de papel para reciclagem (-7,3%), uma vez que as embalagens à base de papel na Europa são predominantemente feitas de material reciclado.
O papel gráfico, que inclui o papel de impressão e escrita, registou uma diminuição drástica no consumo (-27,5%), devido a tendências de conteúdos mais digitais. Dentro desta categoria, o subsegmento livro manteve-se resiliente.
Os papéis tissue, sanitários e domésticos, também pareceram mais estáveis do que outros segmentos, com um declínio limitado de -3,7%. Ainda beneficiam de tendências sociais favoráveis aos produtos de higiene, com os mercados “domésticos”, incluindo lenços de papel e papel higiénico, a terem um melhor desempenho do que os mercados “fora de casa”, mais impactados pela inflação e pelo lento consumo privado.
Finalmente, a produção de pasta de papel na Europa também diminuiu de forma menos acentuada do que a produção global de papel, em 7,5%. A diminuição da produção desta «madeira transformada», principal matéria-prima para o fabrico de papel e cartão, deve-se ao elevado número de encerramentos de fábricas de papel gráfico que também produziam pasta. A produção de pasta de mercado cresceu 4,8% em 2023, à medida que as capacidades avançavam a todo vapor e beneficiavam de uma forte procura por parte da China.