A Beltrão Coelho está no mercado há mais de setenta anos e é especialista em Managed Print Services, ou seja, na gestão de parques de impressão.

Com raiz familiar, a empresa é liderada agora pela neta do fundador, Ana Cantinho, com quem falámos para perceber de que forma a empresa está a funcionar com as restrições impostas pela luta contra a pandemia da COVID-19.

A Beltrão Coelho tem sido a principal parceira da Xerox, especialmente nos últimos dez anos e tem sido recordista em compras de 2011 até à data. Com mais de 1000 contratos ativos, a maioria com o Estado (escolas, ministérios, a Assembleia da República, entre outros), a Beltrão Coelho serve também inúmeros clientes da área privada. Com uma equipa de 75 pessoas, a empresa viu-se obrigada a implementar várias alterações ao funcionamento, e a dar continuidade às operações de apoio.

Ana Cantinho, a líder da Beltrão CoelhoAna Cantinho, a líder da Beltrão Coelho

 

De que forma reagiram à necessidade de isolamento aconselhado pelas autoridades?

No dia 6 de março lançámos um Plano de Contingência, de acordo com as indicações da Direção Geral de Saúde e fomo-nos adaptando às informações que foram surgindo. Na sexta-feira, dia 13, decidimos implementar o teletrabalho. Em seis horas conseguimos colocar 75% das pessoas em teletrabalho, com a colega da informática a trabalhar arduamente para que as pessoas tivessem as condições necessárias, pois nunca o tínhamos feito antes. A trabalhar presencialmente ficaram uma pessoa no armazém, uma pessoa na oficina e os técnicos que estão de prevenção quando é necessário.

De que forma é que isso teve impacto no vosso funcionamento?

Tem sido uma surpresa agradável dentro das circunstâncias atuais. Eu estou nos escritórios, mas nesta situação estamos todos longe uns dos outros. Temos um portal interno e todos comunicam. Logo pela manhã dão bom dia e criámos atividades interativas para continuarmos em contacto. Por outro lado, a produtividade pode não ser a melhor. Passamos muito tempo ao telefone e não há a conversa imediata com os colegas, que resolveria muitas situações. Somos inundados de e-mails, telefonemas e videoconferências, que podem tornar o trabalho mais difícil. Mas vai-se fazendo e há sempre uma palavra de incentivo. Descobrimos que o teletrabalho é possível e antes pensávamos que nunca seria adequado para a nossa empresa.

Será algo a manter quando terminar a pandemia?

Quando passar tudo isto e estivermos a navegar normalmente, o teletrabalho pode vir a ser implementado em algumas situações para um maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Poder dar essa oportunidade às pessoas é algo em que vamos pensar. Às vezes, as pessoas chegam stressadas logo pela manhã devido ao trânsito ou aos transportes públicos e poder aliviar isso é vantajoso para todos.

Mantém-se o espírito de equipa, mesmo à distância?

A Beltrão Coelho tem uma raiz familiar e as 75 pessoas que aqui trabalham são, de facto, como uma família. É um espírito e um ambiente que até as pessoas que acabam de entrar rapidamente adotam. Estamos na semana 6 de quarentena e as pessoas continuam empenhadas e lutamos todos pelo bem da empresa. Exemplo disso é uma pessoa que entrou há poucos meses e que se integrou lindamente. É um colega mais ligado à parte da robótica, que iniciámos há dois anos, mas que se integrou muito bem.

Do lado dos vossos clientes, o que assinalam?

Temos alguns clientes a pedir moratórias das rendas dos serviços porque têm os negócios parados. Vamos analisando a situação e vendo o que é possível fazer, pois continuamos a ter os nossos compromissos com a equipa, com os fornecedores e com o Estado e gostamos de cumprir. Estamos a tentar ajudar na medida do possível.

Pensam em implementar medidas como Lay-off?

O Lay-off não está no nosso horizonte. Se isto se arrastar por mais de seis ou oito meses, talvez tivesse de ser pensado, mas por agora não pensamos nisso.


Têm muitos clientes na área da saúde. Foi necessário aumentar as intervenções e o apoio?

Não verifico mais intervenções no setor da saúde. Continuamos a fazer as assistências normais e tentamos que os colegas tenham os materiais – luvas, máscaras e desinfetantes – para continuar a fazer o seu trabalho. Aliás, tanto para a saúde como para a PSP, cujas intervenções são quase diárias. É isso que nos preocupa também: a segurança dos que andam na rua.

E há procedimentos específicos que aconselham, nomeadamente em relação à desinfeção dos equipamentos?

Há cerca de duas semanas, enviámos informação sobre como deverão ser limpos os equipamentos sem os danificar. Foi a própria Xerox a transmitir-nos também essa informação.

Falou na robótica. Como começou a aposta nessa divisão?

A robótica é algo que começámos há dois anos. Começámos a pensar o que faríamos daqui a cinco anos, porque a impressão está a diminuir. A digitalização é cada vez maior e a tendência é que se imprima menos. Isso vai alterar a gestão dos serviços de MPS, e é algo que todos os fabricantes falam, mas ainda não se sabe de que forma essas mudanças serão implementadas. Foram criados grupos de trabalho para pensar na sustentabilidade da empresa, que apresentaram soluções à direção. A robótica foi uma das soluções apresentadas e a aceitação foi unânime.

Qual é o vosso objetivo?

O objetivo é que seja um serviço como o do MPS em que estamos presentes para ajudar o cliente. O cliente adquire o robot e os serviços. Imaginemos por exemplo um robot de serviço num museu: o robot verifica os bilhetes ou indica onde se encontra água ou o WC. É um robot que presta certos serviços e nós damos o acompanhamento para garantir o funcionamento e a inovação nas aplicações, em contratos de um ou dois anos.

Há algum caso prático que possa referir?

Nós fizemos uma experiência num hotel em que o robot dá as boas-vindas ao cliente e em que o robot recebeu os pedidos do cliente no restaurante.

As pessoas são recetivas as robots?

Ao início, as pessoas tinham algum preconceito, por pensar que poderia significar menos emprego para as pessoas, mas isso não é correto. Entretanto já tínhamos já imensos eventos, que foram cancelados devido à pandemia. Há muito potencial para os robots de serviço. Nós já temos também programadores porque é um serviço personalizado a cada cliente. Há o outsourcing, a parte técnica, a parte da programação.

O que gostaria de dizer a quem ler esta entrevista?

Que desejo que todos estejam de saúde e que consigam dar a volta a isto. Vai demorar, mas estamos cá para ajudar. Acho que é o principal nestes tempos.