Jose Carrasco
 
Reportagem publicada na PACKAGING de Junho de 2015
 
A Gráfica Calipolense foi distinguida, em 2015, com o título de Empresa Gráfica do Ano. Uma honra concedida pelos colegas do setor no âmbito do concurso Papies 2015, que se deveu em grande parte à visão empreendedora de José Carrasco e família. A PACKAGING foi a Vila Viçosa conhecer melhor o mega projeto de que todos falam.
 
Não passa despercebida a ninguém. A nova fábrica da Gráfica Calipolense, na zona industrial de Vila Viçosa, destaca-se pelo aspeto avant-garde e singular. A nave industrial parece saída de um filme futurista, com linhas retas e a cor cinzenta a dar-lhe forma, numa construção original e completamente distinta de todos os outros edifícios que a rodeiam. Sem dúvida, completamente diferente da primeira fábrica da Calipolense.
 
Calipolense

A manhã ainda ia a meio mas o calor do Alentejo já se fazia sentir sem piedade. Mas ninguém o diria ao entrar no pavilhão da Carrasco Labels, a marca criada em 2014 para dar continuidade à história da Calipolense e ao nome de José Carrasco, o atual proprietário. Foi num ambiente com uma temperatura controlada, onde impera a organização, que falámos acerca do porquê de estarmos ali.

A pergunta impunha-se já que passou apenas um mês da noite em que a empresa foi distinguida com um dos maiores galardões dos Papies. Como é que receberam a notícia de que tinham sido eleitos como a Empresa Gráfica do Ano? É José Carrasco que nos responde: “Vieram-me as lágrimas aos olhos e chorei de alegria. Houve muitos amigos que estavam lá na festa e que começaram a enviar mensagens para o telemóvel, de imediato, a dizer: “Parabéns! Tu merecias!”. Vi também alguns amigos que não via há alguns anos e foi tudo vivido com aquela euforia…ficámos muito satisfeitos”. Admite também que não esperava a nomeação, pois “estamos sempre um pouco esquecidos porque estamos aqui “no fim do mundo”, como se costuma dizer, mas estamos orgulhosos por ter recebido o prémio”.
 

Carrasco Labels: uma homenagem de família

Carrasco Labels é a marca que passa a ser sinónimo de Calipolense. É também uma bonita homenagem das filhas de José Carrasco ao pai. Uma forma de perpetuar o nome da família e, ao mesmo tempo, facilitar a comunicação com os clientes que estão além-fronteiras, para quem o nome Calipolense é um pouco mais complicado de entender.  “Eu sou Carrasco e tenho duas filhas. Elas casaram e os meus netos já não vão ter Carrasco no nome. Então elas quiseram fazer algo que perpetuasse o nome. E é também um nome mais sonante, mais internacional. Já fazemos muitas coisas para Espanha e para outros países como Angola, Moçambique…Já trabalhamos também na área da exportação e nesse sentido o nome também ajuda” explica José Carrasco.

Carrasco Labels


A ideia surgiu, a vontade ferveu, a obra nasceu. Foram necessários dois anos para passar a fase do projeto à execução das obras e, finalmente, à inauguração da nova nave industrial em Setembro de 2014. Para trás ficou a falta de apoio do QREN que serviu como motivação para as duas filhas, os dois genros e o patriarca da família continuarem a lutar. “Investimos nesta fábrica quase cinco milhões de euros e tudo com capitais próprios. Vai fazer um ano que estamos a trabalhar e já vamos com dois turnos por isso acho que é um balanço positivo. Agora também vamos entrar numa fase mais calma” conta José Carrasco. O empresário alentejano diz que “foi um pouco de aventura, porque nada nesta vida é certo! Era um negócio que queríamos fazer. Queríamos diversificar um pouco e decidimos apostar nesta área”.

Acompanhado da filha Antonieta Carrasco


Agora é a hora das afinações dos detalhes. Para um futuro, a médio prazo, está planeada a consolidação do parque de máquinas e, quem sabe, o investimento numa nova máquina que permita continuar a evoluir. Quando questionado sobre a constante evolução dos equipamentos, José Carrasco sublinha: “Temos que pensar que o mundo não vai parar e se estamos à espera da última moda, ela nunca chega”.


Há que estar na crista da onda e acompanhar a evolução. É por isso que a Gráfica Calipolense se preocupou com a certificação pelas ISO 9001 e 18001 assim como com a certificação FSC. Além disso, tem a preocupação de continuar a visitar os grandes eventos que lhes permitem estar atualizados: “Continuamos a visitar as feiras gráficas e além disso visitamos as feiras dos nossos setores, como as bebidas, por exemplo. É uma forma de saber as novas tendências. Não vamos só à drupa ou à Labelexpo. Vamos também a outras feiras como a Drinktek”.

Um mercado muito competitivo


A Gráfica Calipolense dedica-se à produção de rótulos em papel, filme e autoadesivos, um mercado onde dá cartas graças à antiguidade, à contínua evolução, à visão estratégica e ao posicionamento geográfico. Tem 80 colaboradores, uma área de produção de 7200 m2 e a capacidade de produção de 40 milhões de etiquetas por dia. Ainda assim, não se deixa “dormir na forma”.
 
Os responsáveis da empresa sabem que não estão sozinhos e que no mercado atual é fácil perder clientes. “O mercado é muito competitivo e tem que se fazer o máximo aproveitamento das máquinas e toda a rentabilidade que é possível. Para que a empresa tenha êxito tem que se trabalhar muito” explicam. Além disso, referem: “Todas as empresas com que trabalhamos têm também um fornecedor estrangeiro. Por isso estamos sempre a competir com indivíduos de Itália, de Espanha, da Bélgica…não estamos sozinhos no mercado. As empresas não querem ficar com apenas um fornecedor. E cá em Portugal é a mesma coisa. O cliente procura uma empresa com qualidade mas que também tenha um preço competitivo”.

Fazem de tudo um pouco, desde rótulos para o setor alimentar a rótulos para o segmento dos detergentes, por exemplo. Fazem a impressão, aplicam acabamentos como a estampagem e o verniz – tudo em linha – e entregam o produto final pronto a aplicar. Aliás, é para o segmento das águas e das cervejas que fazem mais produção.
 
No interior da Calipolense

As condições de mercado, no entanto, já não são as mesmas que conheceram ao início. “Hoje o nosso cliente não quer grandes quantidades. Isto porque a legislação está sempre a alterar e o design também”. Por exemplo, no final de 2014 houve trabalho acrescido devido à mudança da legislação dos rótulos alimentares.

E às mudanças de lei juntam-se as mudanças de campanhas publicitárias e posicionamentos no mercado: “Os clientes querem sempre diferenciar o rótulo e por isso já não encomendam grandes quantidades. Havia empresas em Portugal que faziam rótulos em rotogravura e depois quando surgiam alterações os rótulos produzidos tinham que ser deitados fora. Já não o fazem por causa disso” explica José Carrasco. Agora as tiragens são mais curtas e há que está preparado para as eventualidades.
 
José Carrasco e Rui Coelho

Outro grande esforço é colocado na exportação. “Nós agora já temos comerciais. Antes essa área comercial era sempre minha, mas agora já temos comerciais até em Espanha”. Já trabalham também para países tão distantes como Angola, São Tomé e Príncipe, Benim, Cabo Verde, Israel, Irlanda e França e querem continuar a fazê-lo com cada vez mais expressão, já que essa área já representa 20 a 25% dos resultados da empresa.
 
Impressão no DNA
A história da Calipolense já conta, embora com outros nomes, com mais de 100 anos. Aliás, basta entrar a porta de qualquer uma das unidades fabris – da Calipolense ou da Carrasco Labels – para encontrar as marcas da história da família Carrasco na forma de equipamentos antigos de impressão.
“É uma empresa que já tem mais de 100 anos. A empresa vinha da parte do meu avô. Entretanto, ele faleceu e eu comecei, com uns 16 / 17 anos, a entrar nas artes gráficas. Depois surgiu a situação do Ultramar e só depois do 25 de Abril é que eu continuei a desenvolver a empresa” conta José Carrasco que ainda tem a primeira máquina que o pai lhe ofereceu.
 
Era uma empresa de trabalhos comerciais, que imprimia faturas, envelopes, papel de carta e outras coisas do género. Só ao fim de algum tempo é que a empresa começou, devagar, a fornecer rótulos para as adegas do Alentejo. “Começamos a entrar nos rótulos para as Adegas - a Adega de Borba, a Adega de Redondo e outras aqui da região - e começámos a crescer. Passámos para umas instalações maiores e começámos a fazer rótulos de outro tipo - águas, refrigerantes - e o pulo maior da empresa aconteceu quando passámos para o parque industrial. Fez agora em Março 15 anos. No parque industrial tivemos mais espaço para crescimento e começamos a entrar em força na rotulagem” explica o empresário.
 
A nova unidade fabril e a nova marca surgem também porque os nossos clientes começaram a perguntar por outro tipo de produtos, nomeadamente em autoadesivos e com filme. Aliás, José Carrasco diz que se a sua empresa tivesse trilhado outro caminho “hoje seria uma empresa normalíssima. Poderia ter três, quatro ou cinco colaboradores e não ia passar disso. Hoje em dia as faturas, as folhas de carta e até os envelopes…é tudo feito por computador. Há excesso de oferta e algumas empresas acabam por ter que fechar. E as máquinas cada vez produzem mais. Antes havia uma máquina a duas cores e depois passaram a quatro e hoje em dia até se conseguem máquinas a oito e mais cores. Isso leva a que as coisas se façam de forma mais rápida e não há uma evolução comercial que acompanhe a evolução tecnológica”.
 
Longa vida ao papel
José Carrasco acredita que o papel ainda vai continuar a ser o substrato de eleição quando se fala de etiquetas. “Penso que o papel ainda tem muito para dar, até porque os filmes estão cada vez mais caros. Isso acontece devido à escassez das matérias-primas que são utilizados para os fazer. Além disso não há uma diversidade tão grande de filmes como há de papel. E por causa disso, os fornecedores quando querem aumentar preços conseguem…e é complicado”, diz ele.