A manhã ainda ia a meio mas o calor do Alentejo já se fazia sentir sem piedade. Mas ninguém o diria ao entrar no pavilhão da Carrasco Labels, a marca criada em 2014 para dar continuidade à história da Calipolense e ao nome de José Carrasco, o atual proprietário. Foi num ambiente com uma temperatura controlada, onde impera a organização, que falámos acerca do porquê de estarmos ali.
A pergunta impunha-se já que passou apenas um mês da noite em que a empresa foi distinguida com um dos maiores galardões dos Papies. Como é que receberam a notícia de que tinham sido eleitos como a Empresa Gráfica do Ano? É José Carrasco que nos responde: “Vieram-me as lágrimas aos olhos e chorei de alegria. Houve muitos amigos que estavam lá na festa e que começaram a enviar mensagens para o telemóvel, de imediato, a dizer: “Parabéns! Tu merecias!”. Vi também alguns amigos que não via há alguns anos e foi tudo vivido com aquela euforia…ficámos muito satisfeitos”. Admite também que não esperava a nomeação, pois “estamos sempre um pouco esquecidos porque estamos aqui “no fim do mundo”, como se costuma dizer, mas estamos orgulhosos por ter recebido o prémio”.
Carrasco Labels: uma homenagem de família
Carrasco Labels é a marca que passa a ser sinónimo de Calipolense. É também uma bonita homenagem das filhas de José Carrasco ao pai. Uma forma de perpetuar o nome da família e, ao mesmo tempo, facilitar a comunicação com os clientes que estão além-fronteiras, para quem o nome Calipolense é um pouco mais complicado de entender. “Eu sou Carrasco e tenho duas filhas. Elas casaram e os meus netos já não vão ter Carrasco no nome. Então elas quiseram fazer algo que perpetuasse o nome. E é também um nome mais sonante, mais internacional. Já fazemos muitas coisas para Espanha e para outros países como Angola, Moçambique…Já trabalhamos também na área da exportação e nesse sentido o nome também ajuda” explica José Carrasco.
A ideia surgiu, a vontade ferveu, a obra nasceu. Foram necessários dois anos para passar a fase do projeto à execução das obras e, finalmente, à inauguração da nova nave industrial em Setembro de 2014. Para trás ficou a falta de apoio do QREN que serviu como motivação para as duas filhas, os dois genros e o patriarca da família continuarem a lutar. “Investimos nesta fábrica quase cinco milhões de euros e tudo com capitais próprios. Vai fazer um ano que estamos a trabalhar e já vamos com dois turnos por isso acho que é um balanço positivo. Agora também vamos entrar numa fase mais calma” conta José Carrasco. O empresário alentejano diz que “foi um pouco de aventura, porque nada nesta vida é certo! Era um negócio que queríamos fazer. Queríamos diversificar um pouco e decidimos apostar nesta área”.
Agora é a hora das afinações dos detalhes. Para um futuro, a médio prazo, está planeada a consolidação do parque de máquinas e, quem sabe, o investimento numa nova máquina que permita continuar a evoluir. Quando questionado sobre a constante evolução dos equipamentos, José Carrasco sublinha: “Temos que pensar que o mundo não vai parar e se estamos à espera da última moda, ela nunca chega”.
Há que estar na crista da onda e acompanhar a evolução. É por isso que a Gráfica Calipolense se preocupou com a certificação pelas ISO 9001 e 18001 assim como com a certificação FSC. Além disso, tem a preocupação de continuar a visitar os grandes eventos que lhes permitem estar atualizados: “Continuamos a visitar as feiras gráficas e além disso visitamos as feiras dos nossos setores, como as bebidas, por exemplo. É uma forma de saber as novas tendências. Não vamos só à drupa ou à Labelexpo. Vamos também a outras feiras como a Drinktek”.
Um mercado muito competitivo
Fazem de tudo um pouco, desde rótulos para o setor alimentar a rótulos para o segmento dos detergentes, por exemplo. Fazem a impressão, aplicam acabamentos como a estampagem e o verniz – tudo em linha – e entregam o produto final pronto a aplicar. Aliás, é para o segmento das águas e das cervejas que fazem mais produção.
As condições de mercado, no entanto, já não são as mesmas que conheceram ao início. “Hoje o nosso cliente não quer grandes quantidades. Isto porque a legislação está sempre a alterar e o design também”. Por exemplo, no final de 2014 houve trabalho acrescido devido à mudança da legislação dos rótulos alimentares.
E às mudanças de lei juntam-se as mudanças de campanhas publicitárias e posicionamentos no mercado: “Os clientes querem sempre diferenciar o rótulo e por isso já não encomendam grandes quantidades. Havia empresas em Portugal que faziam rótulos em rotogravura e depois quando surgiam alterações os rótulos produzidos tinham que ser deitados fora. Já não o fazem por causa disso” explica José Carrasco. Agora as tiragens são mais curtas e há que está preparado para as eventualidades.
Outro grande esforço é colocado na exportação. “Nós agora já temos comerciais. Antes essa área comercial era sempre minha, mas agora já temos comerciais até em Espanha”. Já trabalham também para países tão distantes como Angola, São Tomé e Príncipe, Benim, Cabo Verde, Israel, Irlanda e França e querem continuar a fazê-lo com cada vez mais expressão, já que essa área já representa 20 a 25% dos resultados da empresa.
A história da Calipolense já conta, embora com outros nomes, com mais de 100 anos. Aliás, basta entrar a porta de qualquer uma das unidades fabris – da Calipolense ou da Carrasco Labels – para encontrar as marcas da história da família Carrasco na forma de equipamentos antigos de impressão.
“É uma empresa que já tem mais de 100 anos. A empresa vinha da parte do meu avô. Entretanto, ele faleceu e eu comecei, com uns 16 / 17 anos, a entrar nas artes gráficas. Depois surgiu a situação do Ultramar e só depois do 25 de Abril é que eu continuei a desenvolver a empresa” conta José Carrasco que ainda tem a primeira máquina que o pai lhe ofereceu.